Entrevista com

RICARDO JORDÃO MAGALHÃES
Numa entrevista descontraída e esclarecedora, o marqueteiro revolucionário trata do sucesso no mundo empresarial.

Norberto Paul e Artarxerxes Modesto


REVELA: Quem é Ricardo Jordão Magalhães?

O Ricardo é um cara preocupado com a pobreza mental do brasileiro e sempre envolvido em projetos de empresas que de alguma maneira tem como foco servir empresas que tem pouco apoio, recursos, braços e cérebros, mas grandes condições de crescer rápido para mudar o cenário que vive. Eu sou um marketeiro de verdade, e não apenas um publicitário ou fazedor de eventos. Eu consigo rapidamente identificar os problemas de uma empresa, e criar um caminho que irão destacá-la no meio da multidão. Eu sou um cara prático que vive questionando todas as teorias de negócios e vida.

REVELA: O que é o Marketing 2.0?

Marketing 2.0 é um termo que eu inventei para vender livros e palestras e consultoria. Hehhe, brincadeira..., sério. Marketing 2.0 é a utilização das ferramentas de tecnologia que existem hoje para fazer marketing (blog, videos, rss, web seminários, hot sites, comércio eletrônico) com a filosofia de marketing de relacionamento para transformar clientes em fãs. Você poderia dizer também que Marketing 1.0 é o marketing "de todos para todos", e o Marketing 2.0 é o marketing que se preocupa de verdade em servir aos clientes 1-a-1, indicar caminhos que ele não espera, e utilizar a tecnologia para multiplicar os braços da empresa.

REVELA: O cliente realmente sempre tem razão ou o homem de marketing pode (ou deve) auxiliá-lo a descobrir e resolver suas necessidades e desejos?

O cliente nunca sabe o que quer, e espera que seus fornecedores o surpreenda com novidades, dicas, novos negócios. O profissional de marketing tem POR OBRIGAÇÃO estar sempre um passo a frente dos clientes da empresa. O marketing é o leme da empresa. Quando ele não indica novos caminhos, o cliente passa a perceber a empresa como uma mera fornecedora de produtos ou serviços.


REVELA: Fale-nos sobre algumas empresas inovadoras no mundo e qual o futuro delas.

As empresas mais inovadoras do mundo são aquelas que causam interrupção de negócios para grandes conglomerados empresariais.

A Apple é sem dúvida nenhuma uma dessas empresas. Com a invenção do iPod, e agora do iPhone, eles obrigaram a toda a indústria da música, cinema, rádio, e agora celular, sem falar dos fornecedores indiretos a se reinventar.

A Microsoft foi uma dessas empresas. Antes de surgir a plataforma do microcomputador, a IBM e as grandes empresas de mainframe nadavam de braçada sobre os clientes. Hoje, se o Brasil tiver mais que 200 mainframes ligados é muito.

A HP também destruiu um gigante chamado Xerox. Com o advento da impressora, a copiadora perdeu espaço, a Xerox quase quebrou, tudo teve que ser reinventado para se adaptar ao mundo da impressora quase portátil.

A Ikea, vendedora de móveis, arrasou aquele tipo medíocre de vendedor de móveis que faz você pagar na frente e receber os móveis 90 dias depois.

A Netflix, nos EUA, arrasou as locadoras de video com o seu modelo de aluguel de filmes por internet.

O Wal-Mart, que hoje é um gigante, revolucionou o marketing quando era pequena e detonou o negócio da Sears e K-Mart.

A Amazon, caramba, a Amazon mudou o mundo. O impacto desses caras sobre o que está acontecendo hoje na internet não tem precedentes e ninguém nunca será capaz de calcular. Eles criaram a venda pela web, uma indústria de trilhões de dólares, e que não existia há 10 anos atrás!!!

O Cirque du Soleil, vixe, faturando os seus 10 bilhões de dólares, renovou a indústria jurrásica do circo e entretenimento.

Existem muitos exemplos sobre esse tipo de evento de marketing. A Gol, durante um período, atrapalhou o negócio do transporte terrestre (ônibus) quando baixou suas tarifas a preços inferiores ou 20% superiores a certas passagens de ônibus.

Outras indústrias fortes como Petróleo, Carro, Energia, Cidades e Política ainda não foram reinventadas. São negócios que pedem uma grande reinvenção mas ainda não aconteceu.

Mas não se preocupe, vai acontecer cedo ou tarde.

30 mil pessoas nos EUA estão na lista para receber o carro elétrico da GM. O carro elétrico será um divisor de águas no primeiro mundo. O carro a álcool é legal, mas, os caras vão escolher uma invenção deles, e não uma invenção de país de terceiro mundo.

O negócio de todos os negócios chama-se INOVAÇÃO. Todo mundo precisa se reinventar, ou desaparece.

REVELA: Seu newsletter faz um tremendo sucesso porque as pessoas identificam práticas de marketing simples e ao mesmo tempo voltadas para o ser humano em si. Seu slogan é “Eu adoro o ser humano”. É esse o novo marketing? Importar-se com as pessoas ou sempre foi assim?

Sempre foi assim. Quem entendeu isso no passado é líder hoje. A fragmentação da mídia está levando essa mensagem para todos.

Mas, não adianta babar ovo para cima do cliente. Do mesmo jeito que uma mulher despreza o homem que se arrasta aos seus pés, e vice-versa, o cliente não vai dar valor ao fornecedor que fala tudo que ele quer ouvir.

Ser arrojado, criativo, provocativo, falar alto, brigar pelas suas vontade é SER HUMANO. Ser amigo de todos, morno, falar baixinho, é coisa de animal irracional.

Ser HUMANO é ser CORAJOSO, ter AMOR PRÓPRIO para brigar pelos seus direitos, não exatamente tratar os outros como eles acham que gostariam de ser tratados.

REVELA: Quem pratica atualmente um “marketing revolucionário”?


Boa pergunta.

1. TODOS aqueles que tratam os seus clientes como membros de uma comunidade podem ser considerados revolucionários. A Harley Davidson é um bom exemplo desse tipo de marketing Apesar do seu gigantismo, a Harley continua fazendo marketing boca-a-boca, desenvolveu uma ultra comunidade global com 2 milhões de usuários, e se apresenta como uma empresa de marketing life style.

Eu gosto também de todas as empresas da tribo do surf. As surfwares são um outro bom exemplo de criação de estilo de vida e identificação sagrada com o público. O jovem faz compras em determinadas surfwares espalhadas pelo Brasil completamente seduzido pela loja.

2. TODOS aqueles que incluem o social no negócio comercial da empresa podem ser considerados revolucionários. Abrir ONG ou bancar Associações é bacana, gera economia de impostos, mas ainda não é algo autêntico. Do que adianta uma empresa tipo Klabin - que produz papel - bancar uma ONG que ajuda meia dúzia de clientes no interior de São Paulo?

A Body Shop nos EUA, e talvez a Natura e Boticário no Brasil são bons exemplos desse tipo de coisa. O próprio produto dessas empresas é feito de substâncias naturais, e a ligação dessas empresas com a terra é verdadeira.

3. TODOS aqueles que encontram uma maneira de popularizar o produto ou serviço que oferecem podem ser considerados revolucionários. A Companhia das Letras é revolucionária quando cria uma coleção de livros de bolso para serem vendidos por 1/3 do preço do livro de capa dura. O Google é revolucionário quando oferece ferramentas grátis, antes disponíveis apenas para poucos. TODA a indústria de software open source é incrivelmente revolucionária.

4. TODOS os pequenos empresários brasileiros que pagam todos os impostos que tem que pagar, e mantem a empresa funcionando no lucro, e ainda investe na educação dos funcionários, e ainda investe em algum tipo de inovação para a empresa podem ser considerados revolucionários. Quem são esses caras? Tem muitos, anônimos, ilustres desconhecidos para a multidão.

REVELA Você tira lições da velha Brasoft, que se transformou numa das maiores (senão a maior) empresas de software do Brasil nos anos 80/90?

Sim, muitas. Fizemos os jogos quando ninguém acreditava; fizemos as lojas quando ninguém acreditava; fizemos a internet quando ninguém acreditava; fizemos marketing onde só existia engenheiros. As principais lições que trago da Brasoft e Brasoftware são: o hábito de ser arrojado, as duras lições que empresas de start-up ensinam para quem suporta o longo começo, como tratar e se relacionar com a gringolândia, como fazer mais com muito menos.

8) O que o acadêmico de Administração de Empresas de hoje pode esperar da profissão? O que fazer para melhorar seu perfil?

Ler. Nos EUA, os gerentes médios lêem 0,5% de livros por ano. Imagina qual deve ser esse número no Brasil. ZERO. Se você considerar que um bom livro de negócios vende 5 mil cópias no Brasil, e temos 6 milhões de empresas com 3 milhões de gerentes de alguma coisa, você vai ver que ninguém lê nada.

Quantos cursos de extensão de educação para executivos têm no Brasil? O número é pífio.

O que um acadêmico poderia fazer para melhorar? Ser um cara acadêmico. Estudar livros de negócios e praticá-los na vida.

Você já viu algum administrador de empresas, um gerente qualquer de qualquer coisa, com um livro sobre a sua mesa de trabalho??? É RARO encontrar um bicho assim.

Como alguém pode ser melhor se não estuda, não lê, não se atualiza, não troca experiências em cursos ou palestras, não participa de fóruns sobre a sua profissão na internet, não comparece a workshops oferecidos gratuitamente pela entidade que regulamenta a sua profissão, etc etc etc?

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